Poderá o comportamento do Educador em creche modelar a participação, comunicação e interação da criança com os seus pares?
DOI:
https://doi.org/10.25757/invep.v15i1.426Resumo
Nos primeiros anos de vida, o desenvolvimento da criança é afetado pelas suas experiências (físicas, motoras e sensoriais) e interações sociais. Sabendo que a forma como o adulto interage e comunica influencia a ação e a participação da criança, neste estudo pretendemos pesquisar sobre o papel do adulto enquanto modelo social e pedagógico para as crianças de 2 a 3 anos, durante uma atividade lúdica de construção conjunta, e averiguar se os modelos dos adultos são transferidos entre pares.
Nesta pesquisa participaram 20 crianças, entre os 2 e os 3 anos, e 10 educadoras/auxiliares. O estudo desenvolveu-se em duas fases. Na 1ª fase, 10 díades adulto-criança foram filmadas durante 15 minutos numa atividade lúdica de construção, e na 2ª fase replicou-se a situação anterior com a criança participante e uma outra criança da sua sala.
Os participantes foram cotados nas tipologias Tandem relativamente à participação, desafio e relação. A análise e cotação do comportamento verbal abrangeu 8 categorias: perguntas de conteúdo, perguntas de processo, sugestões, direções, ordens, ensino, elogios e desaprovação. O comportamento interativo da criança foi analisado quanto à participação, interação e cooperação.
Não encontramos evidências fortes da transferência de participação e de desafio do modelo do adulto entre pares, embora se verifique em termos relacionais. A maioria das crianças fez a sua atividade em paralelo com outra criança, embora, na primeira fase, a tenha desenvolvido em parceria ou em colaboração com um adulto. Contudo, a resposta verbal e não verbal do adulto, a capacidade de desafiar a criança, partindo dos seus interesses e opiniões, num clima de apoio baseado na empatia, pode abrir espaços de participação para as crianças em creche.
Palavras-chave: Projeto Tandem; Modelos de Participação e Relacionais; Primeiros anos; Comportamento e Comunicação do adulto.
Downloads
Referências
Arezes, M. L. (2013). A interação e cooperação entre pares: uma prática em contexto de creche (Tese de doutoramento).
Azevedo, A. R. (2023). Projeto Tandem: Estudo sobre os contributos do adulto como modelo social e pedagógico na aprendizagem adulto/criança e a pares, em crianças em idade pré-escolar. Dissertação apresentada para obtenção do grau de mestre em Ciências da Educação, Especialidade Intervenção Precoce. Instituto Politécnico de Lisboa: Escola Superior de Educação.
Bandura, A. (1977). Social learning theory. Englewood Cliffs, NJ: Prentice-Hall.
Barroso, I., Ferreira, A., Fernandes, I., Branco, M., Ladeiras, A., Pinto, F., Osório, T., Veloso, C., Relvas, M., Brandes, H., Sousa, O., & Fuertes, M., (2016). Estudo sobre as diferenças interativas e comunicativas das educadoras e das mães com crianças em idade pré-escolar. Da Investigação às Práticas, 7(1), 41–62. http://dx.doi.org/10.25757/invep.v7i1.117
Benetti, I., Vieira, M., Crepaldi, M. & Schneider, D. (2013). Fundamentos da teoria bioecológica de Urie Bronfenbrenner. Pensando Psicologia, 9(16), 89-99. Retirado de https://revistas.ucc.edu.co/index.php/pe/article/download/620/585/
Brandes, H., Andrä, M., Röseler, W., & Schneider-Andrich, P. (2015). Does gender make a difference? Results from the German ‘tandem study’ on the pedagogical activity of female and male ECE workers. European Early Childhood Education Research Journal, 23, 315-332. https://doi.org/10.1080/1350293X.2015.1043806
Brown, M. E. & Treviño, L. K. (2014). Do Role Models Matter? An investigation of role modeling as an antecedent of perceived ethical leadership. Journal of Business Ethics, 122, 587–598. https://doi.org/10.1007/s10551-013-1769-0
Carvalho, L., Almeida, I. C., Felgueiras, I., Leitão, S., Boavida, J., Santos, P. C., Serrano, A., Brito, A. T., Lança, C., Pimentel, J., Pinto, A. I., Grande, C., Brandão, T. & Franco, V. (2016). Práticas Recomendadas em Intervenção Precoce na Infância: Um Guia para Profissionais. Coimbra: Associação Nacional de Intervenção Precoce.
Clérigo, J., Sousa, O., Lino, D., & Fuertes, M. (2021). Modelos pedagógicos dos educadores na interação e na comunicação com as crianças durante tarefa cooperativa. Teoria, práticas e investigação em intervenção precoce II, 125-147. https://doi.org/10.34629/ipl.eselx.cap.livros.119
Convenção dos Direitos da Criança (1989). Assembleia Geral das Nações Unidas. Consultado em unicef_convenc-a-o_dos_direitos_da_crianca.pdf
Farinha, S. & Fuertes, M. (2018). Quando sou mãe e quando sou educadora! Comparando Mães e Educadoras (com os seus filhos ou com outras crianças) numa tarefa colaborativa com a criança. Da Investigação às Práticas: Estudos Educacionais, 8(2), 47-74. https://doi.org/10.25757/invep.v8i2.151
Fernandes, I., Fuertes, M., Ferreira, A., Barroso, I., Branco, M., Ladeiras, A., Pinto, F., Sousa, T., Veloso, C., Brandes, H., & Sousa, O. (2018). Estudo comparativo acerca do comportamento e comunicação materna e paterna em atividade conjunta com os seus filhos de idade pré-escolar. Análise Psicológica, 36(3), 295-310. https://doi.org/10.14417/ap.1240
Ferreira, A. S., Barroso, I., Branco, M., Fernandes, I., Ladeiras, A., Osório, T., Pinto, F. B., Relvas, M., Veloso, C., Brandes, H., Sousa, O., & Fuertes, M. (2016). Estudo sobre as diferenças interativas e comunicativas de educadores e educadoras com crianças em idade em pré-escolar. Da Investigação às Práticas: Estudos De Natureza Educacional, 6(2), 79-100. https://doi.org/10.25757/invep.v6i2.102
Folque, M. A., & Vasconcelos, T. (2019). Que educação para as crianças dos 0 aos 3 anos?. Conselho Nacional de Educação. Universidade de Évora.
Fuertes, M. (2023). Contributos da Interação Social do Bebé para a Organização da Vinculação . Revista Interacções, 19(65), 1–24. https://doi.org/10.25755/int.28192
Fuertes, M., Almada, M., Braz, M. & Lopes, J. (2022). Interacting and communicating with children: an exploratory study about educators’ behavior during a collaborative activity. European Early Childhood Education Research Journal, 30, 912-929. https://doi.org/10.1080/1350293X.2022.2081344
Fuertes, M., Fernandes, I., Azevedo, A. R., Morais, I., Tadeu, B., & Tempera, T. (2024). What do adults learn through play regarding interactions and communication with children? European Early Childhood Education Research Journal, 1–14. https://doi.org/10.1080/1350293X.2024.2332456
Fuertes, M., Sousa, O., Łockiewicz, M., Nunes C. & Lino, D. (2018) How different are parents and educators? A comparative study of interactive differences between parents and educators in a collaborative adult-child activity. PLoS ONE 13(11): e0205991. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0205991
Hart, B., & Risley, T. R. (1995). Meaningful differences in the everyday experience of young American children. Baltimore, MD: Brookes.
Illeris, K. (2018). An Overview of the History of Learning Theory. European Journal of Education, 53, 86-101. https://doi.org/10.1111/ejed.12265
Katz, L. G. (1983). Distinction entre maternage et éducation. Revue des sciences de l'éducation, 9(2), 301-319. https://doi.org/10.7202/900415ar
Ladeiras, A. & Fuertes, M. (2018). Comportamento interativo e comunicativo de crianças em idade pré-escolar com pais e educadores na experiência Tandem. Teoria, Práticas e Investigação em Intervenção Precoce, pp. 356-389. Lisboa: CIED. http://hdl.handle.net/10400.21/10500
Lopes, A. S., Portugal, G. & Figueiredo, M. (2021). Dimensões de análise da interação adulto-criança na Educação de Infância. Investigar em Educação, 13, 79-88.
Ministério da Solidariedade e da Segurança Social [MSSS]. (2011). Portaria nº 262/2011, de 31 de agosto. Estabelece as normas reguladoras das condições de instalação e funcionamento da Creche. Diário da República, I série, nº167.
Palangana, I. (2015). Desenvolvimento e aprendizagem em Piaget e Vigotski: A relevância do social. São Paulo: Summus Editorial. ISBN 978-85-323-1037-8 (recurso eletrónico).
Papalia, E.; Olds, S., & Feldman, R. (2006). Desenvolvimento Humano. 8ºed. Porto Alegre: Artmed.
Piaget, J. (1964). A formação do símbolo na criança: imitação, jogo e sonho, imagem e representação. 3ª ed. Rio de Janeiro: LTC.
Portugal, G. (2017). O Currículo em creche – que cidadão do séc. XXI, aos 3 anos de idade? Humanidades e Inovação, 4(1), 56-65.
Portugal, G., Carvalho C. & Bento, G. (2024). Orientações Pedagógicas para a Creche. Ministério da Educação/Direção-Geral da Educação (DGE). Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social /Instituto da Segurança Social.
Portugal, G. (2011). No âmago da educação em creche – o primado das relações e a importância dos espaços. Educação da criança dos 0 aos 3 anos, 47-60. Lisboa: Conselho Nacional de Educação.
Portugal, G., & Luís, H. (2016). A atenção à experiência interna da criança e estilo do adulto: Contributo das escalas de empenhamento para a melhoria das práticas pedagógicas em educação de infância. Saber & Educar, 21, 66-75. http://revista.esepf.pt/index.php/sabereducar/article/view/207
Pinto, A. I. (2006). O envolvimento da criança em contexto de creche: os efeitos de características da criança, da qualidade do contexto e das interações educativas. Dissertação de doutoramento. Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto.
Ruggeri, A., Luan, S., Keller, M., & Gummerum, M. (2018). The influence of adult and peer role models on children’ and adolescents’ sharing decisions. Child Development, 89(5), 1589-1598. https://doi.org/10.1111/cdev.12916
Soderstrom M. (2007). Beyond babytalk: Re-evaluating the nature and content of speech input to preverbal infants. Developmental Review, 27, 501–532.
Tomasello, M. (2003). Constructing a language: a usage-based theory of language acquisition. Cambridge: Harvard University Press.
Tronick, E., Barbosa, M., Fuertes, M. & Beeghly, M. (2019). Social Interaction (pp. 207-215). Encyclopedia of Infant and Early Childhood Development (second edition). US: Academic Press/Sage. https://doi.org/10.1016/B978-0-12-809324-5.23629-8.
Vasconcelos, T. (2011). Conselho Nacional de Educação - Recomendação n.º 3/2011 – A educação dos 0 aos 3 anos. Diário da República, 2.ª série – l N.º 79 – 21 de Abril de 2011.
Veiga, B., Fernandes, I., Sousa, O., & Fuertes, M. (2019). O percurso dos estudos tandem sobre o comportamento interativo e comunicativo de pais e educadores em tarefas colaborativas. Da Investigação às Práticas: Estudos De Natureza Educacional, 9(2), 46-72. https://doi.org/10.25757/invep.v9i2.184
Veiga, B., Fernandes, I., Sousa, O., Nunes, C., & Fuertes, M. (2020). Estudo comparativo da participação, interação e comunicação em díades com crianças com atraso de desenvolvimento e com crianças com desenvolvimento típico durante uma tarefa construção. Sensos-E, 7(1), 99-110. https://doi.org/10.34630/sensos-e.v7i1.3512
Veloso, C., Ladeiras, A., Ferreira, A., Barroso, I., Fernandes, I., Pinto, F., Branco, M., Sousa, O., Fuertes, M., (2018). Estudo sobre as diferenças interativas e comunicativas dos educadores e dos pais com crianças em idade pré-escolar, Da Investigação às Práticas, 8(1), 94-116. http://dx.doi.org/10.25757/invep.v6i2.102
Vigotsky, L. (2007). A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. 7ª Edição. São Paulo: Martins Fontes.
Vygostsky, L. (1984). Mind in Society: The development of higher psychological processes. Cambridge: Harvard University Press.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Secção
Licença
Direitos de Autor (c) 2025 Inês Morais, Ana Rita Azevedo, Isabel Fernandes, Marina Fuertes
Este trabalho encontra-se publicado com a Licença Internacional Creative Commons Atribuição 4.0.
Os artigos da revista Da Investigação às Práticas: Estudos de Natureza Educacional estão licenciados conforme Creative Commons Attribution License (CC BY-NC 4.0) Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
Os autores mantêm os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação. Os artigos estão simultaneamente licenciados sob a Creative Commons Attribution License que permite a partilha do trabalho com reconhecimento da sua autoria e da publicação inicial nesta revista.
Os autores têm autorização para disponibilizar a versão do texto publicada na Da Investigação às Práticas: Estudos de Natureza Educacional sem custos em repositórios institucionais ou outras plataformas de distribuição de trabalhos académicos (p.ex. ResearchGate), com a devida citação ao trabalho original.
A revista não aceita artigos que estejam publicado (exceto sob a forma de resumo ou como parte de uma tese), submetidos ou sejam submetidos durante o processo editorial a outras revistas ou publicações. Após publicado o artigo não pode ser submetido a outra revista ou publicação parcial ou totalmente sem autorização da coordenação editorial da Investigação às Práticas: Estudos de Natureza Educacional.