EDITORIAL

Editorial

 

Francisco Vaz da Silva
Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Lisboa

 

A Escola Superior de Educação de Lisboa (ESELx), instituição que se dedica à formação de profissionais de educação, afirma a sua identidade em torno dos princípios da inclusão. Como se pode ler no seu Projecto Formativo (2011):

“A ESELx prepara profissionais de educação (professores e outros agentes educativos) orientando a sua acção ao serviço da criança e do jovem, do adulto, do idoso, nomeadamente aqueles com maiores necessidades sócio-educativas.”

Surge neste contexto de forma natural este número especial da sua revista “Da Investigação às Práticas” dedicada à temática da inclusão, em grande medida pensado para profissionais de educação em formação inicial ou contínua. Responderam ao nosso desafio um conjunto de investigadores cujos trabalhos se agrupam à volta de três grandes temáticas: i) Caminhos para a inclusão, ii) Investigação sobre práticas educativas inclusivas, e iii) Informando as práticas – apoio às práticas dos professores.

No primeiro tema, Caminhos para a Inclusão, inclui-se testemunhos na construção da educação e de escolas inclusivas. A entrevista a Ana Maria Bénard da Costa pretende ser um tributo a uma grande Senhora, protagonista do desenvolvimento da educação especial em Portugal, em que nos dá conta do seu percurso em articulação com a evolução das ideias sobre as melhores respostas educativas para alunos com necessidades ditas especiais, ao mesmo tempo que nos oferece comentários de uma grande actualidade sobre a presente realidade.

O segundo artigo nesta secção é da autoria de colegas da Universidade de Graz, Áustria, que nos contam os passos que têm sido dados para a inclusão de alunos nas escolas daquele país que tem uma organização do sistema educativo e uma tradição muito diferente da portuguesa. Para além do enriquecimento que, sem dúvida, nos proporciona a informação que aqui encontramos, o contraste com a nossa realidade poderá estimular a reflexão dos nossos leitores sobre os diferentes caminhos que a construção de sociedades e escolas inclusivas pode tomar.

O segundo tema, Práticas Educativas Inclusivas, é dedicado a trabalhos de investigação empírica sobre as práticas inclusivas de professores do 1º Ciclo do Ensino Básico. Nestes trabalhos confrontam-se as concepções dos intervenientes com dados de observação das suas práticas, resultando desse confronto a reflexão necessária para a melhoria da qualidade da educação. Os temas abordados nos artigos aqui reunidos, adaptações curriculares, experiência de educação de alunos com Perturbação do Espectro do Autismo e avaliação, são de grande relevância e, esperamos, inspiradores para as práticas dos profissionais no terreno.

Finalmente, no terceiro tema, Informando as Práticas, reunimos um conjunto de trabalhos que têm em comum o objectivo de oferecer aos professores um conjunto de ferramentas de apoio às práticas inclusivas de qualidade fundamentadas numa extensa revisão da investigação em diferentes domínios.

No primeiro artigo, Amaral e Celizic identificam indicadores de qualidade da intervenção com crianças e jovens com deficiência intelectual e multideficiência, uma população que, pelas suas características, constitui um enorme desafio para os profissionais da educação. Os indicadores identificados são organizados numa ficha que poderá orientar a planificação e a avaliação das práticas dos profissionais com estas crianças.

Nunes e Madureira propõem, com base nos princípios do desenho universal para a aprendizagem, um instrumento orientador para a planificação e avaliação das práticas dos professores.

Ferreira e Horta, revendo a investigação sobre a aprendizagem da leitura, apontam estratégias e actividades eficazes para a aprendizagem de alunos com dificuldades específicas neste domínio.

Esperamos que o conjunto de trabalhos aqui reunidos possam constituir leituras inspiradoras e motivadoras de reflexão por parte dos profissionais de educação a quem dirigimos este número especial sobre inclusão, contribuindo para a melhoria da qualidade da educação oferecida às nossas crianças e jovens.

Regozijamo-nos com a feliz coincidência temporal da publicação deste número especial com a realização do Congresso Internacional ISEC 2015, possa ela contribuir para fazer frutificar as sementes que se procuram lançar, fazendo avançar os ideais da inclusão.

Uma última palavra de agradecimento aos autores que participaram neste projecto com os seus trabalhos, a todos os outros colegas que levaram a cabo a revisão científica dos mesmos, assegurando a sua qualidade e credibilidade científica, bem como aos outros colegas que, menos visíveis mas não menos importantes, secretariaram a edição deste número especial.