EDITORIAL
Editorial
Catarina Tomás, Carolina Gonçalves, Margarida Rodrigues, Marina Fuertes, Otília Sousa
O presente número da revista Da
Investigação às Práticas apresenta um conjunto de contribuições oriundas de
vários campos do saber, enfoques, tempo e espaços, sobre questões que vão desde
as brincadeiras dos adultos e das crianças, aos desafios educativos e
pedagógicos que se colocam aos docentes, quando se consideram as competências e
ações das crianças, às orientações
pedagógicas e doutrinação política dos professores do
ensino primário nas décadas de 30 e 40 do século XX em Portugal, até às
questões que se põem aos animadores socioculturais quando se discute o fenómeno
da imigração.
O roteiro que fazemos neste número leva-nos a uma reflexão que se pode
caraterizar pela sua abrangência, pela multidisciplinaridade e pela atenção
prestada aos problemas epistemológicos, teóricos, pedagógicos, históricos e
sociais colocados aos profissionais ou futuros profissionais da educação,
considerada neste número na sua vastidão e heterogeneidade, ou seja, na assunção das
experiências de cariz formal, não-formal e informal,
em Portugal, no Brasil ou na Polónia.
Abrem
o número os artigos de Alberto Nídio
Silva e Angela Scalabrin
Coutinho, respetivamente, que se centram no ato de brincar, focando, no primeiro caso, a análise sociológica da
brincadeira como expressão das culturas lúdicas da infância, como parte de um
processo da herança cultural lúdica que trespassa quatro gerações. O autor defende
a centralidade que a ludicidade assume para as crianças mesmo quando
os seus mundos são pautados por adversidades. No segundo caso, a autora investiga as relações sociais dos bebés a partir da brincadeira. Com base num estudo
de natureza etnográfica, ancorado no diálogo entre a Pedagogia da Infância e da
Sociologia da Infância, apresenta um conjunto de orientações para a docência no
quadro da educação de infância, nomeadamente o papel importante que o adulto
assume nas brincadeiras das crianças.
Ainda na linha dos
desafios com que se confrontam os docentes, Malgorzata Zytko
coloca-nos perante os desafios que os resultados ao nível da matemática na
Polónia apresentam à prática docente. A investigação com crianças de 9 anos, a
partir de uma análise psicológica e didática, aponta para os baixos níveis de compreensão das crianças relativamente
ao sentido das operações aritméticas bem como baixos níveis da capacidade de
utilização de estratégias pessoais na resolução de problemas. Nas conclusões, a
autora refere o paradoxo da situação educacional atual, nomeadamente o facto de
muitas vezes as crianças terem competências que a escola não trabalha e terem baixos níveis de competência na área
curricular da aritmética que é trabalhada de forma intensiva na escola, o que
compromete o seu pensamento criativo. Defende a criação e o apoio a grupos de
professores que trabalham com as crianças, a partir das teorias
construtivistas, como possibilidade de ultrapassar as dificuldades a longo
prazo.
O artigo da autoria de Maria Paula Pereira procede
a uma análise socio histórica dos artigos publicados, entre os anos letivos de
1934-1935 e de 1945-1946, no Boletim da Direção Geral do Ensino Primário - Escola
Portuguesa - possibilitando a compreensão da
intencionalidade pedagógica e política definidas pelo Salazarismo para o
sistema educativo, concretamente nos domínios da orientação pedagógica e doutrinação política
dos professores do ensino primário.
Fecha o número o artigo de Dulce Rodrigues, Tânia Correia, Inês
Pinto, Ricardo Pinto e Cristina Cruz, que propõe a discussão sobre a
necessidade de reconhecimento das comunidades imigrantes em Portugal de forma a potenciar a
compreensão e a minimização das dificuldades do convívio pluricultural,
destacando o papel do animador sociocultural nesse processo. Os autores fazem uma
reflexão em torno da construção da identidade e profissionalidade dos
animadores socioculturais a partir de uma perspetiva interdisciplinar, defendendo
que esta deve ser promovida na formação inicial do percurso formativo dos
animadores socioculturais.
Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Lisboa