Pedro Reis,
Instituto de Educação da Universidade de Lisboa
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A EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E A AÇÃO SOCIOPOLÍTICA
Numa conjuntura mundial em que imperam o populismo, os “factos alternativos”[1], a manipulação de informação, as controvérsias e as injustiças sociais, torna-se decisivo que os cidadãos se envolvam ativamente na defesa do Estado Democrático e dos Direitos Humanos. As sociedades democráticas fundamentam-se em cidadãos ativos predispostos e capacitados a participarem em processos decisórios sobre as opções de desenvolvimento com as quais são confrontados, assegurando que as decisões políticas conjunturais e os interesses económicos de minorias não se sobrepõem aos objetivos sociais, aos valores ambientais e à promoção da qualidade de vida do conjunto da Humanidade.
A escolha da discussão e da ação sociopolítica (ativismo) sobre problemas sociais como veículos de aprendizagem reflete concepções sobre a importância da autonomia intelectual e da colaboração social na construção de uma sociedade democrática. A discussão está associada aos valores da democracia, do respeito e da tolerância, alargando o nível de compreensão individual pelo contacto com as perspectivas e as experiências de vida dos outros. Constitui a base da soberania popular, um processo não violento de tomada de decisões e uma forma de mobilização comunitária em torno de objectivos ou problemas comuns. Contudo, a promoção da discussão não é suficiente perante a conjuntura atual, tornando-se necessário passar à ação sociopolítica fundamentada em investigação (ativismo). O desenvolvimento das competências e do comprometimento dos alunos para tomarem ações coletivas, fundamentadas, responsáveis e eficazes sobre questões de interesse social, económico, ambiental e moral-ético, permite a libertação do controlo hegemónico dos especialistas e dos políticos e o desenvolvimento do sentimento de poder de intervenção na evolução da sociedade.
Discutir, decidir ou resolver problemas dependem da experiência relativamente a cada situação. É a experiência que confere a familiaridade e a confiança que determinam a disposição e a autoridade para pensar e agir. A inexperiência relativamente ao conflito, à controvérsia, à discussão e à ação leva os cidadãos a evitá-los, dificultando a assunção de papéis políticos e comprometendo a qualidade do processo democrático.
A Escola constitui um espaço por excelência para o empoderamento dos alunos como cidadãos ativos e críticos, capazes de encarar as controvérsias e os problemas da sociedade convictos do seu direito de formular opiniões, tomar decisões e agir e não na expectativa de que qualquer autoridade possa decidir e resolver em seu lugar.
Este número temático apresenta diversas contribuições para uma educação sociopolítica no âmbito da educação em ciências que pretende capacitar os cidadãos para o exercício de uma cidadania ativa e fundamentada e a exigência de justiça social e ética nas interações entre ciência, tecnologia, sociedade e ambiente.
Lisboa, 16 de março de 2017
NOTAS
[1]Expressão utilizada por uma conselheira do Presidente dos Estados Unidos da América, quando confrontada com a falsidade de afirmações proferidas pela Equipa Governativa de Donald Trump, à qual pertence.